Parede de painéis monolíticos de solo-cimento
Por Célia Neves e Eduardo Salmar
A construção com terra têm mostrado sua versatilidade através dos séculos. Em todos os recantos do mundo, as técnicas construtivas surgiram em quase todas as civilizações do passado e expandiram-se através das invasões e colonizações, comuns na história da Humanidade.
As técnicas nativas uniram-se às técnicas trazidas pelos estrangeiros e, com variadas combinações entre elas, passaram pelas devidas adaptações técnicas e culturais para atender às necessidades do Homem e de seu Ambiente Construído. Os antigos souberam como explorar as boas propriedades da terra e utilizá-la em belíssimas construções, muitas das quais sobreviveram até a atualidade, desafiando séculos da ação abrasiva de ventos e chuva.
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Figura 1 – Fortaleza de Bam – Irã Figura 2 – Cidade de Chanchán - Peru
As primeiras notícias sobre tentativas de formulação da tecnologia de construção com terra ocorreram no final do Século XIX, quando também se iniciaram programas de investigação científica sobre o assunto. Já no Século XX, a partir de promissores resultados obtidos do comportamento de misturas compactadas de terra3 e cimento, desenvolveram-se também investigações sobre o uso de terra estabilizada com aglomerantes químicos para a fabricação de tijolos e blocos prensados ou compactados e a execução de paredes monolíticas. No final da década de 70, o CEPED – Centro de Pesquisas e Desenvolvimento, Brasil, iniciou um projeto de investigação sobre o uso do solo-cimento compactado para execução de paredes de painéis monolíticos. O projeto contou de duas etapas distintas: o estudo do material e o desenvolvimento do sistema construtivo.
Neste projeto, o CEPED buscou definir parâmetros que assegurassem a qualidade do material com as características exigidas para sua utilização em edificações, tais como resistência, durabilidade, impermeabilidade e baixa condutividade térmica.
Em seguida, iniciou a etapa de transferência da tecnologia desenvolvida através da construção de diversas edificações, tanto em regime de auto construção como de administração direta, cursos de capacitação técnica, treinamento, assessoria e assistência técnica. Procurou avaliar os métodos de controle e os sistemas construtivos desenvolvidos e medir a produtividade.
Neste período, foram elaborados manuais técnicos, cartilhas e textos básicos para normas técnicas.
A partir das ações do CEPED relativas à transferência de tecnologia, empresas de projeto e construção, pública e privada, inclusive o CEPED, realizaram diversas obras utilizando o sistema de paredes de painéis monolíticos de solo-cimento.
Ao final da década de 90, contava-se com cerca de 100.000 m2 de área construída com solo-cimento no Brasil. Realizou-se então um projeto para avaliação pós-ocupação das edificações, cujo resultado certificou o uso apropriado da técnica construtiva, independente da região, do construtor e do regime de construção.
Atualmente, através de Talleres, o Projeto de Investigação PROTERRA do CYTED/HABYTED promove a divulgação e capacitação de técnicas de construção com terra, inclusive a de paredes monolíticas de solo-cimento, em diversos países ibero-americanos.
A TECNOLOGIA
A técnica de parede de painéis monolíticos de solo-cimento é fundamentada na técnica da taipa de pilão, denominada tapia apisonado ou tapial na maioria dos países de língua espanhola.
As modificações mais significativas em relação a taipa de pilão correspondem ao uso de moldes mais leves, de menores dimensões, a incorporação do cimento à terra e menores espessuras das paredes.
O SOLO-CIMENTO
O solo-cimento corresponde a uma mistura de terra, cimento e água que pode ser empregada para execução de fundações e paredes. A mistura, com baixo teor de água (umidade ótima do solo), é usada para fabricação de tijolos e blocos prensados, denominados BTC, ou compactado em moldes para execução de paredes de painéis monolíticos.
Os solos mais adequados são os que possuem as seguintes características:
• 100% passando na peneira 5 mm
• 50% a 95% de areia
• LL ≤ 45% (limite de liquidez)
• IP ≤ 18%
• ≤ 2 cm de retração no ensaio da caixa http://www.forumdaconstrucao.com.br/materias/imagens/00449_03.jpg
A mistura dos materiais pode ser manual ou mecânica. Adiciona-se o cimento à terra, destorroada e peneirada, até obter coloração uniforme. Se necessário, coloca-se água aos poucos, até obter uma mistura com a umidade adequada.
A verificação da umidade da mistura é feita com razoável precisão pelo teste do bolo, que consiste em tomar um punhado da mistura e apertá-la entre os dedos e a palma da mão: ao abrir a mão, o bolo deverá ter a marca deixada pelos dedos; deixando-se cair o bolo de uma altura aproximada de 1m sobre uma superfície dura, ele deverá esfarelar-se ao chocar-se com a superfície.
A quantidade de cimento varia em função das características da terra. Desde que a terra tenha sido previamente selecionada, pode-se usar a proporção de 1 volume de cimento para 15 volumes de terra. A tabela abaixo indica o consumo de material para diversas proporções.
Tabela 1 – Consumo de material para solo-cimento
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DESCRIÇÃO DA TÉCNICA CONSTRUTIVA
A parede é executada com painéis, travados verticalmente entre si, moldados no local, com auxílio de guias verticais, moldes e outros acessórios. Para o pé direito até 2,80 m, a espessura da parede é de 12 cm.
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Figura 3 – Vista geral da construção
As guias verticais podem sem: perdidas, pois ficam embutidas na parede e são geralmente de concreto armado; ou recuperadas, pois são retiradas após a conclusão do painel e são geralmente de madeira. No sistema de guias recuperadas, o painel executado serve como guia para o painel seguinte.
Os moldes, geralmente de madeira – laminado fenólico com 18 mm de espessura, são fixados às guias por meio de parafusos de aço, com diâmetro de 2,5 cm (1/2’).
Para construir os painéis, fixam-se duas guias verticais aprumadas, onde deslizam os moldes, presos entre si por parafusos. No espaço limitado pelos moldes e guias compacta-se a mistura de terra e cimento, em camadas com altura igual ou inferior a 20 cm até o completo enchimento do molde.
A desmoldagem é feita logo após a compactação, podendo o molde, em seguida, ser fixado para compactação do bloco imediatamente superior ao recém-moldado e assim sucessivamente, até atingir a altura total da parede.
No caso de paredes perpendiculares entre si, fazem-se três rasgos verticais no painel executado, os quais servirão de guias; os dois rasgos externos guiam a molde e o do meio garante o encaixe responsável pela articulação do painel.
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Figura 4 – Guias verticais Figura 5 – Molde e guias Figura 6 – Compactação
A cura do solo-cimento é feita molhando a parede 3 vezes ao dia, durante 7 dias após executada.
A fundação também pode ser executada com solo-cimento em sapata corrida. Abre uma cava ao longo de toda parede e compacta a mistura na cava, em camadas com altura igual ou inferior a 20 cm.
TALLER DE PAREDES DE PAINÉIS MONOLÍTICOS
O PROTERRA foi convidado a participar da III Jornada Taller de Transferencia Tecnológia 2003. Aportes para el Hábitat Popular em conjunto com a Rede XIC.C.- Red Iberoamericana sobre Transferencia y Capacitación Tecnológica para la Vivienda de Interés Social, realizado no período de 27 a 30 de agosto de 2003, em Assunção. Paraguay. A participação do Proterra consistiu na apresentação de uma palestra com o tema “Seleção de solos apropriados para construção com terra” e a atividade de capacitação através da construção de um muro, em esquina, com o sistema de painéis monolíticos de solo-cimento.
A Taller foi realizado com dois instrutores, membros do PROTERRA, especialistas em paredes de painéis monolíticos de solo-cimento. Assistiram cerca de 300 pessoas principalmente professores e estudantes universitários e agentes comunitários.
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Figura 7 – Compactação do painel monolítico Figura 8 – Acabamento no topo
Durante três dias, os participantes fizeram moldes, prepararam e compactaram a mistura de solo-cimento nos moldes e se interaram de vários procedimentos próprios da construção de painéis monolíticos.
Em seguida, um professor universitário, estimulado e devidamente capacitado durante o taller, com a colaboração de seus alunos e membros de uma comunidade, construiu uma casa para crianças abandonadas no distrito de Luque, próximo da cidade de Assunção, Paraguay.
Por Célia Neves e Eduardo Salmar
A construção com terra têm mostrado sua versatilidade através dos séculos. Em todos os recantos do mundo, as técnicas construtivas surgiram em quase todas as civilizações do passado e expandiram-se através das invasões e colonizações, comuns na história da Humanidade.
As técnicas nativas uniram-se às técnicas trazidas pelos estrangeiros e, com variadas combinações entre elas, passaram pelas devidas adaptações técnicas e culturais para atender às necessidades do Homem e de seu Ambiente Construído. Os antigos souberam como explorar as boas propriedades da terra e utilizá-la em belíssimas construções, muitas das quais sobreviveram até a atualidade, desafiando séculos da ação abrasiva de ventos e chuva.
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Figura 1 – Fortaleza de Bam – Irã Figura 2 – Cidade de Chanchán - Peru
As primeiras notícias sobre tentativas de formulação da tecnologia de construção com terra ocorreram no final do Século XIX, quando também se iniciaram programas de investigação científica sobre o assunto. Já no Século XX, a partir de promissores resultados obtidos do comportamento de misturas compactadas de terra3 e cimento, desenvolveram-se também investigações sobre o uso de terra estabilizada com aglomerantes químicos para a fabricação de tijolos e blocos prensados ou compactados e a execução de paredes monolíticas. No final da década de 70, o CEPED – Centro de Pesquisas e Desenvolvimento, Brasil, iniciou um projeto de investigação sobre o uso do solo-cimento compactado para execução de paredes de painéis monolíticos. O projeto contou de duas etapas distintas: o estudo do material e o desenvolvimento do sistema construtivo.
Neste projeto, o CEPED buscou definir parâmetros que assegurassem a qualidade do material com as características exigidas para sua utilização em edificações, tais como resistência, durabilidade, impermeabilidade e baixa condutividade térmica.
Em seguida, iniciou a etapa de transferência da tecnologia desenvolvida através da construção de diversas edificações, tanto em regime de auto construção como de administração direta, cursos de capacitação técnica, treinamento, assessoria e assistência técnica. Procurou avaliar os métodos de controle e os sistemas construtivos desenvolvidos e medir a produtividade.
Neste período, foram elaborados manuais técnicos, cartilhas e textos básicos para normas técnicas.
A partir das ações do CEPED relativas à transferência de tecnologia, empresas de projeto e construção, pública e privada, inclusive o CEPED, realizaram diversas obras utilizando o sistema de paredes de painéis monolíticos de solo-cimento.
Ao final da década de 90, contava-se com cerca de 100.000 m2 de área construída com solo-cimento no Brasil. Realizou-se então um projeto para avaliação pós-ocupação das edificações, cujo resultado certificou o uso apropriado da técnica construtiva, independente da região, do construtor e do regime de construção.
Atualmente, através de Talleres, o Projeto de Investigação PROTERRA do CYTED/HABYTED promove a divulgação e capacitação de técnicas de construção com terra, inclusive a de paredes monolíticas de solo-cimento, em diversos países ibero-americanos.
A TECNOLOGIA
A técnica de parede de painéis monolíticos de solo-cimento é fundamentada na técnica da taipa de pilão, denominada tapia apisonado ou tapial na maioria dos países de língua espanhola.
As modificações mais significativas em relação a taipa de pilão correspondem ao uso de moldes mais leves, de menores dimensões, a incorporação do cimento à terra e menores espessuras das paredes.
O SOLO-CIMENTO
O solo-cimento corresponde a uma mistura de terra, cimento e água que pode ser empregada para execução de fundações e paredes. A mistura, com baixo teor de água (umidade ótima do solo), é usada para fabricação de tijolos e blocos prensados, denominados BTC, ou compactado em moldes para execução de paredes de painéis monolíticos.
Os solos mais adequados são os que possuem as seguintes características:
• 100% passando na peneira 5 mm
• 50% a 95% de areia
• LL ≤ 45% (limite de liquidez)
• IP ≤ 18%
• ≤ 2 cm de retração no ensaio da caixa http://www.forumdaconstrucao.com.br/materias/imagens/00449_03.jpg
A mistura dos materiais pode ser manual ou mecânica. Adiciona-se o cimento à terra, destorroada e peneirada, até obter coloração uniforme. Se necessário, coloca-se água aos poucos, até obter uma mistura com a umidade adequada.
A verificação da umidade da mistura é feita com razoável precisão pelo teste do bolo, que consiste em tomar um punhado da mistura e apertá-la entre os dedos e a palma da mão: ao abrir a mão, o bolo deverá ter a marca deixada pelos dedos; deixando-se cair o bolo de uma altura aproximada de 1m sobre uma superfície dura, ele deverá esfarelar-se ao chocar-se com a superfície.
A quantidade de cimento varia em função das características da terra. Desde que a terra tenha sido previamente selecionada, pode-se usar a proporção de 1 volume de cimento para 15 volumes de terra. A tabela abaixo indica o consumo de material para diversas proporções.
Tabela 1 – Consumo de material para solo-cimento
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DESCRIÇÃO DA TÉCNICA CONSTRUTIVA
A parede é executada com painéis, travados verticalmente entre si, moldados no local, com auxílio de guias verticais, moldes e outros acessórios. Para o pé direito até 2,80 m, a espessura da parede é de 12 cm.
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Figura 3 – Vista geral da construção
As guias verticais podem sem: perdidas, pois ficam embutidas na parede e são geralmente de concreto armado; ou recuperadas, pois são retiradas após a conclusão do painel e são geralmente de madeira. No sistema de guias recuperadas, o painel executado serve como guia para o painel seguinte.
Os moldes, geralmente de madeira – laminado fenólico com 18 mm de espessura, são fixados às guias por meio de parafusos de aço, com diâmetro de 2,5 cm (1/2’).
Para construir os painéis, fixam-se duas guias verticais aprumadas, onde deslizam os moldes, presos entre si por parafusos. No espaço limitado pelos moldes e guias compacta-se a mistura de terra e cimento, em camadas com altura igual ou inferior a 20 cm até o completo enchimento do molde.
A desmoldagem é feita logo após a compactação, podendo o molde, em seguida, ser fixado para compactação do bloco imediatamente superior ao recém-moldado e assim sucessivamente, até atingir a altura total da parede.
No caso de paredes perpendiculares entre si, fazem-se três rasgos verticais no painel executado, os quais servirão de guias; os dois rasgos externos guiam a molde e o do meio garante o encaixe responsável pela articulação do painel.
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Figura 4 – Guias verticais Figura 5 – Molde e guias Figura 6 – Compactação
A cura do solo-cimento é feita molhando a parede 3 vezes ao dia, durante 7 dias após executada.
A fundação também pode ser executada com solo-cimento em sapata corrida. Abre uma cava ao longo de toda parede e compacta a mistura na cava, em camadas com altura igual ou inferior a 20 cm.
TALLER DE PAREDES DE PAINÉIS MONOLÍTICOS
O PROTERRA foi convidado a participar da III Jornada Taller de Transferencia Tecnológia 2003. Aportes para el Hábitat Popular em conjunto com a Rede XIC.C.- Red Iberoamericana sobre Transferencia y Capacitación Tecnológica para la Vivienda de Interés Social, realizado no período de 27 a 30 de agosto de 2003, em Assunção. Paraguay. A participação do Proterra consistiu na apresentação de uma palestra com o tema “Seleção de solos apropriados para construção com terra” e a atividade de capacitação através da construção de um muro, em esquina, com o sistema de painéis monolíticos de solo-cimento.
A Taller foi realizado com dois instrutores, membros do PROTERRA, especialistas em paredes de painéis monolíticos de solo-cimento. Assistiram cerca de 300 pessoas principalmente professores e estudantes universitários e agentes comunitários.
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Figura 7 – Compactação do painel monolítico Figura 8 – Acabamento no topo
Durante três dias, os participantes fizeram moldes, prepararam e compactaram a mistura de solo-cimento nos moldes e se interaram de vários procedimentos próprios da construção de painéis monolíticos.
Em seguida, um professor universitário, estimulado e devidamente capacitado durante o taller, com a colaboração de seus alunos e membros de uma comunidade, construiu uma casa para crianças abandonadas no distrito de Luque, próximo da cidade de Assunção, Paraguay.
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